Você disse que todo mundo anda te perguntando sobre a
pressão de assumir uma franquia de tanto sucesso, e eles também querem saber o motivo dos vampiros serem tão populares. Honestamente, não houve realmente muita pressão para mim porque existia uma audiência garantida, o que significava que mesmo que eu fizesse um filme horrível, as pessoas ainda o assistiriam. Então, uma vez que você tem essa segurança toda em suas mãos [risos], você só tenta fazer o melhor filme possível, que é o que pretendíamos fazer. E eu não senti nada além do apoio dos fãs desde o primeiro dia - na verdade, no primeiro dia havia uma pequena dúvida, porque eu tenho um cromossomo Y, mas desde então eu senti muito amor dos fãs.
E por que vampiros?Na verdade, eu percebi que os vampiros de Stephenie Meyer não são realmente vampiros - você não vê cruzes, não existe alho, eles não dormem em caixões, eles podem sair de dia – são simplesmente mais bonitos. São mais como deuses gregos. Então, de qualquer forma, é sobre essa garota que se apaixona por esse semideus. Acho que simboliza seu primeiro amor - a pessoa pela qual você se apaixona, que você pensa que possivelmente nunca, nunca irá retornar suas afeições.
O quanto você pesquisou sobre vampiros antes de começar o filme? Absolutamente nada. Minha pesquisa foi ler os livros da Stephenie e falar com ela e assistir ao primeiro filme e conhecer os atores - me familiarizar com o trabalho que eles fizeram, mas não muita vampirologia.
Eu li que você teve a idéia para esse filme como uma pintura narrativa vitoriana em termos de cores - como você conseguiu uma abordagem para o filme a partir desse ângulo?Em termos de um modelo para cinematografia eu acho que é uma boa, quer dizer, as pinturas vitorianas, especialmente as pré-rafaelitas, contam histórias de uma forma sentimental e muito bonita. Esses livros não têm medo de ser sentimentais ou românticos, e eu queria que todo aspecto da produção estivesse sem medo de ir a um lugar muito romântico.
Considerando que o primeiro filme teve um tipo de amor rock and roll muito torturado nele, eu queria que esse fosse um épico impetuoso. De várias maneiras, é um filme muito maior - em termos do terreno que ele abrange, das emoções e dos lugares que vai - então eu realmente queria fazer um filme com um visual clássico que foi classicamente composto e classicamente filmado. Teve uma pontuação clássica de uma certa forma e [o compositor] Alexandre Desplat é de uma escola de compositores que pode trabalhar com uma veia clássica e com uma veia contemporânea. Teve um tipo de componente bem agradável nisso, que é a trilha sonora, que pudemos ter todas essas bandas incríveis compondo para nós, foi incrivelmente gratificante.
Voltando à noção de um "épico impetuoso", o livro se divide em três partes: primeiramente tudo está bem. Então Edward deixa Bella, e a maior parte da história é ela fazendo amizade com Jacob. O final é repleto de ação à medida que a história alcança a resolução. Para contar a história em uma tela, você teve que reajustar essa divisão? Você descreveu praticamente os atos um, dois e três. Uma das coisas interessantes é que o medo que as pessoas tinham era que não tivesse Edward suficiente. O fato de ele ser banido do livro realmente não se aplica a esse filme, porque você não passa tanto tempo longe de Edward. Mas também é importante ter alguma ausência do Edward, para poder sentir falta dele.
Teria sido errado, eu acho, ter várias cenas simultâneas onde você fica vendo Edward pela Floresta Amazônica procurando por Victoria. Acho que é um bom equilíbrio entre sentir falta de Edward e ter o suficiente dele. Melissa Rosenberg, a roteirista, e eu decidimos ter alucinações visuais de Edward ao invés de apenas sons. Quando ela o vê, é de uma maneira muito sutil para que não ficasse forçado.
Acho que o filme é muito bem balanceado. Taylor tem um ótimo desempenho, e a relação dele e de Kristen mantém o filme. Sim, houve a tentação de mudar as coisas para que tivéssemos o máximo de Rob que pudéssemos, mas as Team Edward terão o seu Rob e as Team Jacob terão seu lugar ao sol também. Mas não lutamos para compensar qualquer deficiência percebida nesse departamento.
O livro é meio sombrio, mas possui também momentos alegres. Quando as coisas estão sombrias, elas ficam bem sombrias, e é um pouco melancólico e depressivo por um tempinho. Mas nos deparamos com alguns momentos engraçados em nossas mãos e quando ouço a platéia assistindo ao filme e há risada, eu acho que é intencional [risos] e não risadas desconfortáveis. Tem momentos engraçados.
Por exemplo, você descobre como é música vampiresca de elevador em uma parte, que não é algo que você esperava e não estava no livro. Eu decidi na pós-produção que isso seria algo interessante. Quando Stephenie finalmente viu um pedaço do filme, ela disse que tinha amado e queria mais.
Você consultava Stephenie frequentemente enquanto ia tomando as decisões. Eu ficava sempre verificando com ela quando queria saber algo que estivesse no livro, para ver se tudo estava OK para ela e várias vezes ela pensava, "é uma ótima idéia, isso é engraçado" ou tínhamos mais idéias que seriam incorporadas ao filme. Então, de alguma forma, é meio que uma extrapolação ou extensão do livro.
Mas eu cometi alguns erros - em uma parte eu tinha um dos Volturi [os poderosos defensores das leis dos vampiros] segurando uma faca de pedra na garganta de Edward, e ela disse que não daria certo [porque os Volturi] não cortariam a garganta de Edward. Então eu disse "OK!" [risos]. Eu descubro que minha mitologia está errada de vez em quando e ela me coloca no caminho certo.
Você adicionou alguma cena?Há um momento de ameaça quando Bella está se afogando que eu acho que não está no livro. É realmente engraçado - eu ouvi a resposta dos fãs e eles imaginaram a cena diferente quando a leram. Eu amo quando algo que eu extrapolo ou adiciono - e eu sempre tento fazer coisas à risca, estou me adaptando - mas amo quando algo que eu escrevi ou inventei ou o roteirista escreveu ou inventou aparece como se tivesse sido tirado do livro. Então você sabe que realmente atingiu o alvo.
Eu também li que você instruiu a Kristen a fazer aquela cena de um jeito e depois colocou uma roupa de mergulho e entrou na água também e percebeu que era impossível enfrentar aquilo. Rob tinha feito um desses trabalhos embaixo d'água em um dos filmes Harry Potter, então ele estava relativamente confortável fazendo as coisas no fundo de uma piscina. Para conseguir essa cena corretamente, precisávamos ter uma tomada de cima de Kristen como Bella afundando no oceano. A melhor maneira de fazer isso era ter Kristen no fundo de uma piscina de 4 metros de profundidade, apenas flutuando ali, imóvel. E Kristen já estava expressando um pouco de preocupação quanto à água profunda, e eu falei pra ela, "4 metros não é tão fundo!" [risos], então decidi descer lá com uma roupa de mergulho e pesos nos bolsos e entrei em pânico.
Pensei, "caramba, isso não é nem um pouco divertido!" e percebi que Rob na verdade tinha alguma coragem e que o resto de nós teria que ficar distante demais do tipo da piscina. Ajustamos tudo para que pudéssemos fazer nossa tomada de forma lateral e ficar como se fosse uma tomada de cima. E Kristen ficou gripada aquele dia, então seria a última coisa que eu ia fazer - colocar uma pessoa gripada no fundo de uma piscina de 4 metros com pesos nos bolsos. Não parecia ser uma boa jogada.
Tem também pessoas dirigindo motos nesse livro - estavam todos dispostos a fazer isso?Não queríamos pôr Kristen em perigo de forma alguma - quando ela está na moto, na verdade está em um trailer. Mesmo que pareça bem real, ela não está dirigindo por conta própria em momento algum. Mas isso não impediu Taylor de realizar suas façanhas - ele faz tudo, mas apenas porque ele é meio que louco por pular por aí, e quando você o vê pulando em um prédio e fazendo sua brincadeira de parkour, é realmente ele fazendo isso. Ele tem cabos presos dele, que nós editamos, mas os cabos são apenas para prevenir no caso dele cair e morrer - isso não estava levantando-o de maneira alguma, então ele estava mesmo pulando pela lateral de um prédio por conta própria.
Você também adaptou “A Bússola de Ouro” e “Um Grande Garoto”. Na sua opinião, mesmo sem essa bagagem, você teria sido capaz de chegar tão perto em Lua Nova?Acho que dadas as limitações de tempo que estávamos sujeitos, teria sido muito, muito mais difícil. De fato eu fui capaz de usar elementos de computação gráfica nesse filme com uma equipe que eu já conhecia de “A Bússola de Ouro” e que ganhou o Oscar por esse filme, então me ajudou incomensuravelmente, porque estivemos correndo desde o primeiro dia. Então ajudou conhecer as pessoas certas - não sou um mestre em computação gráfica, apenas conheço pessoas que são.
E em termos de tradução da página para a tela?Acho que eu tinha, até agora, um pouco de treinamento sobre o que manter e o que é irrelevante e eu tenho mais e mais me apegado à idéia de ser o mais fiel possível ao livro original e percebendo que minha responsabilidade é com o autor e os fãs do livro.
Você teve alguma controvérsia em torno do lançamento de “A Bússola de Ouro”.A controvérsia foi de que o estúdio removeu elementos do livro que iriam fazê-lo menos lucrativo. Eu protestei arduamente e eles voltaram a cortar minha versão do filme. Então isso me fez mais determinado a provar que a melhor maneira de adaptar um livro que tem uma base de fãs é identificar o que os fãs mais se importam e apresentar isso apropriadamente.
Quando você faz isso, você sabe que está ao menos capturando o que é atraente para as pessoas na forma escrita em primeiro lugar. Isso significa que você também sabe o que - quem o público é,até os que não leram o livro - irão gostar. Pelo menos irá conseguir identificar algo bom.
Você tem falado um pouco sobre enfatizar momentos mais Team Edward e Team Jacob - quando você se familiarizou com esses pontos importantes na base de fãs da série? Durante a filmagem eu tentei não consultar muito os sites de fãs porque sabia que me preocuparia com isso o tempo todo, como um político balançado pelas pesquisas. Li o livro como um fã - eu li muito rápido e meio que o devorei e imaginei quais eram os momentos que seriam mais importantes para mim como fã. Melissa, felizmente, escreveu um ótimo roteiro que juntava o que mais importava para os fãs. Em um certo momento eu me lembro da Stephenie escrevendo para mim e dizendo que foi conferir uns sites e viu um top 10 das cenas que os fãs mais se importavam, e elas estavam no roteiro, aquilo foi ótimo.
Haverá um momento aqui ou ali que o fã irá sentir falta ou verá coisas diferentes e não há nada que eu possa fazer sobre isso, exceto apresentar-me como mais um fã, mesmo aquele que tem dezenas de milhões de dólares à sua disposição para realizar as coisas.
Seu momento favorito no livro é diferente do seu momento favorito no filme? Não. Espera. Sim, é, na verdade. O último momento do filme, eu acho que é o meu favorito. É um momento do livro, mas é apresentado um pouco diferente - é dado um pouco mais de angústia, um tipo de sensação romântica. Acho que o público irá entender porque apresentei dessa forma e porque não é [do jeito que é no livro]. E o filme inteiro constrói isso cuidadosamente.
Você fez isso para preparar o terreno para David Slade dar o primeiro passo na direção do terceiro filme, Eclipse? Para ser honesto, eu fui egoísta tentando escolher o melhor momento emocional para mim e talvez deixando para David um pequeno estímulo sobre como começar o próximo filme. Já vi o roteiro de Melissa para o terceiro filme e se encaixa com ele admiravelmente bem - então eles estão OK!
Fonte: Rollingstone.com
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